Os mascotes da Rede Globo
Tudo começou quando o Xou da Xuxa foi cancelado no finalzinho de 1992, pois a rainha dos baixinhos estaria apresentando seu novo programa infantil no exterior. A emissora de Roberto Marinho queria um novo infantil que superasse seu antecessor a todo custo. Inicialmente, a Globo tentou produzir uma nova versão do Vila Sésamo, um de seus primeiros programas infantis, da década de 1970. Mas os direitos só foram cedidos pela Sesame Workshop para a TV Cultura em 2007. Uma série de ficção científica com bonecos nos moldes de Star Trek e Star Wars também foi considerada. Esta série seria produzida pela Jim Henson Company sob o nome de Farscape. Por último, um programa apresentado por Angélica, de saída da extinta Rede Manchete, e por bonecos do grupo gaúcho de teatro de bonecos 100 Modos. Infelizmente, Angélica não concordou com o resultado final e passou a apresentar seu próprio programa no SBT. O cartunista, ilustrador e cineasta Luiz Ferré, e o estudante de história Roberto Dorneles, ambos do grupo gaúcho de teatro de bonecos 100 Modos/Criadores e Criaturas, foram contratados por Boninho, atual diretor de Big Brother Brasil, para criar o programa Mundo Cão que estreou sob o nome TV Colosso. Boninho teve a idéia de usar cachorros para representar os personagens-bonecos. O que deveria durar só quatro meses na programação global tornou-se, sem mais delongas e dúvidas, o carro-chefe da programação infantil por quatro anos e um dos programas infantis mais icônicos da história da TV brasileira. O programa passava de segunda à sábado às 8 da manhã ao meio-dia, cujos melhores momentos da semana eram reprisados nos finais de semana.
Relembre esta saudosa abertura assinada pelo lendário Hans Donner.
TV Colosso era apresentado por bonecos manipulados manual ou eletronicamente, incluindo alguns personagens manipulados por atores reais dentro de fantasias (leia-se "suitmation", a mesma técnica utilizada nos filmes do Godzilla, no Vila Sésamo e em seriados como Power Rangers e Família Dinossauros). O elenco era composto por 28 fantoches muppets: 25 cachorros e 3 pulgas. Ao longo do tempo, o programa introduziu novos personagens como o galo Gagá e a galinha Gogó, aumentando o elenco de bonecos para 50 personagens. Um simples boneco era aproveitado para uma variedade de papéis diferentes.
Priscila, JF e Sofia
A protagonista era a sheep-dog Priscila, uma charmosa produtora e apresentadora, cujo braço-direito eram os três Gilmares: o Gilmar das Candorgas, o Bochecha e o Tico-Tico. Borges era um bulldog que sempre ficava na mesa de controle, apertando os botões para chamar os desenhos animados que eram exibidos no programa. O apresentador de telejornais era Walter Gate e seu filho Waltinho era o repórter. O dono da TV Colosso era JF, o magnânimo vitaminado chefinho, e seu assistente bajulador era Capachildo Capachão que nunca mediria esforços para agradar seu patrão. Jaca Paladium era o psicótico documentarista que adorava descontar em seus fãs, os três filhotinhos, com suas machadadas. Malabi era o guru espiritual da emissora. Já o Thunderdog era uma caricatura do VJ da MTV, Luiz Thunderbird, que apresentaria o TV Zona na Rede Globo, com pouquíssimo sucesso. As vilãs do programa eram as pulguinhas do Mega-Trio que gostavam muito de criar problemas técnicos nos estúdios da emissora. O personagem Paulo Paulada foi alvo de polêmica, pois apesar de ser um dos personagens favoritos do público infantil, foi hostilizado pela mídia e entidades especializadas por violência excessiva, já que ele gostava muito de atacar seus amigos a cacetadas.
Bob Dog e Priscila
A TV Colosso era como se fosse uma emissora de verdade. O canal exibia o Jornal Colossal, o Clip-Cão, novelas mexicanas que parodiavam a teledramaturgia da Rede Globo, o seriado As Aventuras do Supercão, as Olimpíadas de Cachorro, os programas do Jaca Paladium, o Capashow, Priscila Superstar, Você Escolhe, No Mato Sem Cachorro, Parmesão & Provolone, Com a Pulga Atrás da Orelha, Asfalto Quente e as aventuras do ladrão de chocolates Roberval.
Manipuladores do Supercão e do Vira-Lata de Aço
Os roteiros eram assinados por cartunistas e nomes dos quadrinhos nacionais: Laerte, Angeli, Glauco, Luiz Gê, Fernando Gonzales, Newton Foot, Adão Iturrusgarai, Gilmar Rodrigues e Luís Fernando Veríssimo. Os outros roteiristas Valério Campos e Toninho Neves eram veteranos do 100 Modos. Antes da TV Colosso, Ferré, Betinho e o grupo trabalharam em outros programas da Rede Globo como o musical infantil Plunct Plact Zuuum e o programa de videoclipes Clip Clip.
Equipe de manipulação
A produção do programa teve uma liberdade criativa total. Boninho também estudou confeccionar os bonecos nas oficinas da própria Rede Globo ou importar os bonecos e a equipe do Jim Henson. TV Colosso acabou sendo desenvolvido na conexão Porto Alegre (onde os bonecos foram confeccionados na oficina Inventiva que visitou os estúdios de efeitos especiais em Los Angeles para desenvolver a tecnologia de manipulação eletrônica), São Paulo (onde Ferré mora e trabalha), Rio de Janeiro (onde o programa foi gravado nos estúdios Tycoon, Cinédia, Maragoa, Renato Aragão (atual Casablanca Estúdios), Pólo Rio de Cinema e Vídeo, Riocentro e Herbert Richers, devido à Rede Globo ainda não possuir estúdios necessários para gravar programas deste gênero) e Boston, Massachusetts (onde a cobertura de pêlos, a parte estática dos bonecos, foi confeccionada). A Globo inaugurou seu próprio departamento de efeitos especiais especificamente para o programa, focado na manutenção e restauração de bonecos. A equipe criativa contabilizava 50 profissionais, incluindo 30 manipuladores de fantoches.
Fazendo Gilmares na refinaria de sonhos e milagres do 100 Modos nos estúdios Tycoon e Renato Aragão
Priscila e JF eram exemplos principais de bonecos manipulados por atores vestindo fantasias. Por serem bonecos de vestir com 2 metros de altura, os atores-manipuladores se revezavam para manipular o mesmo personagem. Os movimentos dos capacetes animatrônicos eram feitos por manipuladores eletrônicos no computador, dando plena liberdade de movimentação nos cenários. O capacete animatrônico da Priscila era manipulado por 5 servomotores para criar 4 mvoimentos da boca, língua e sobrancelhas. Já outros personagens dispunham de 24 motores. Os bonecos animatrônics foram confeccionados por Daniel Segal e Sidnei Antonioli, também responsáveis pela manutenção e reparo dos bonecos. Roberto Dornelles era o diretor de manipulação de bonecos. Mário Jorge de Andrade era o diretor de dublagem. Os dubladores dos bonecos faziam as vozes guia para os manipuladores e gravavam as vozes finais em cima na fase de pós-produção. Os cenários, criados por Lia Renha, Maria Odile e Fernando Schmidt, tinham uma diversidade de proporções, variando desde o tablado até as versões confeccionadas para os bonecos de 2 metros de altura. Todos os objetos de cena foram confeccionados com lixo reciclado. A cada dois meses, os bonecos eram armazenados numa banheira quente e higienizados com xampu e condicionador.
Cozinheiro em um cenário de telenovela
Como o programa era exibido de manhã e terminava por volta de meio-dia, na hora do almoço, o cozinheiro da emissora, chamava todo mundo com um sotaque francês para os clientes comerem e era atropelado por todo mundo, em louca disparada.
Especial do Dia da Criança com a turma do Casseta & Planeta
No ano de estréia, o programa apresentou um especial de natal. Em junho de 1994, TV Colosso deixou de ser exibido aos sábados para dar lugar ao Xuxa Park, voltando a ser exibido aos sábados no início do ano seguinte, dividindo o horário matinal com a apresentadora. Na Copa do Mundo de 94, os personagens da TV Colosso vestiam a camisa da seleção brasileira em um videoclipe da música-tema da Rede Globo para a Copa. Naquele mesmo ano, o programa apresentou mais um especial de natal A Incrível Corrida do Papai Noel. Em 1995, o programa deixou de ter um único tema por dia e passou a apresentar diversas esquetes, saindo do cenário exclusivo das dependências da TV. Com isso, o formato passou a ser mais ágil e mais infantil, assumindo o humor no estilo dos desenhos animados do Cartoon Network e da Nickelodeon que estavam sendo produzidos na época. TV Colosso passou a ser produzido pelo núcleo do Boninho e gravado no então recém-inaugurado Projac (atuais Estúdios Globo). Nesse ano, o programa apresentou um especial do Dia das Crianças na faixa de programação Terça Nobre. O especial marcou a primeira vez em que os bonecos interagiram com atores reais, entre eles o elenco da novela-seriado teen Malhação. O especial foi gravado nos cenários originais dos dois programas e no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro.
Zé Carioca entrevista Romário
Em 1996, o programa reprisou a versão de 1976 de Sítio do Pica-Pau Amarelo e introduziu no seu elenco um personagem da Disney, Zé Carioca, manipulado por Zé Clayton e dublado por Marco Antônio Costa. Como parte do contrato da Globo e do 100 Modos com a Disney, o boneco do Zé Carioca foi confeccionado nos estúdios da própria casa do Mickey pela Character Shop de Rick Lazzarini (famoso por sua colaboração com Stan Winston no clássico Aliens - O Resgate), usando látex, fibra de vidro e carbono, e revestido com tecido e flocking (micropêlos que imitam a penugem dos pássaros). Zé Carioca apresentava seu próprio quadro Disney Club e chamava os desenhos animados da Disney.
Malditas pulgas!!!
O programa lançou três discos pela gravadora Som Livre, um longa-metragem para o cinema lançado pela Paris Filmes, shows, um musical, álbuns de figurinhas, material escolar, brinquedos, histórias em quadrinhos, video games, fitas VHS, DVDs, cópias digitais e uma variedade de produtos com a marca do programa. O acordo entre a Globo e a Criadores e Criaturas, dona dos direitos autorais dos personagens, proibiu os bonecos de serem usados em outra emissora. Apesar disso, eles foram liberados para participarem de diversas apresentações.
Camila Pitanga, Gilmar e André Abujamra no filme da TV Colosso
TV Colosso deixou de ser produzido em 1997, mas os personagens continuaram a aparecer em outros programas da Rede Globo como Bambuluá, Mais Você, Vídeo Show, Criança Esperança, Estação Globo e o show de 50 anos da emissora. Recentemente, o programa voltou a ser produzido e exibido para a internet sob o nome de Priscila Show, introduzindo novos personagens como Lila, a sobrinha da Priscila, e o músico Amadeus, e atingindo a marca de 1,5 milhões de views. Os personagens também realizaram apresentações ao vivo em parques temáticos e atualmente podem ser vistos em seus próprios canais nas redes sociais.
Priscila na sede do Playkids
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