Como vocês sabem, o auge do programa se deu nos anos 70. A idéia do seriado não veio do Brasil, e sim da Sesame Workshop (outrora Children's Television Workshop), uma produtora norte-americana que também criou outras séries infantis como Sagwa, a Gatinha Siamesa, O Fantasma Escritor, Cro, Big Bag, Historinhas de Dragões, Pequenos Planetas e Pinky Dinky Doo. É lá onde eles ainda produzem o programa cujo nome original se chama Sesame Street no qual se basearam para criar nossa Vila Sésamo.
A TV Cultura e a Rede Globo resolveram comprar os direitos em 1972 e produzir uma versão brasileira do seriado, criada por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) e Cláudio Petraglia. Como a Globo não tinha estúdios para produzir Vila Sésamo, as duas emissoras toparam em co-produzir o programa. A primeira fase produzida de 1972 a 1974 teve a colaboração de Edwaldo Pacote e dos alunos de Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA).
Em 1974, a Rede Globo passou a produzir sozinha a segunda fase do programa. Quem ganhou com isso foi o público infantil que pôde assistir os dois canais em dois horários diferentes para conferir o Vila Sésamo. De acordo com a Globo, o programa chegou a pagar US$ 7.000 só de direitos autorais à Sesame/CTW.
A primeira obra-prima infantil da TV Cultura foi justamente este programa que, no ano de estréia, ganhou dois Troféus Helena Silveira (um como melhor programa cultural e outro consagrando Sônia Braga como revelação feminina) e um da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) (como melhor programa do ano). Esses troféus ajudaram a consagrar a direção de Ademar Guerra e a adaptação brasileira de Cláudio Petraglia.
Vila Sésamo ensinava para as crianças os números, as letras, as sílabas, matemática, gramática, brincadeiras, músicas e tudo mais, intercalando ainda com desenhos animados.
Os primeiros episódios foram cuidadosamente adaptados seguindo os padrões estipulados pela Sesame/CTW, mas o programa fez tanto sucesso que a Sesame/CTW deu total liberdade de criação, resultando na nacionalziação completa do Vila Sésamo, adotando uma linguagem própria. Devido à grande diferença social no Brasil, a versão brasileira foi produzida usando como cenário uma vila nu lugar de uma rua como no original. O elenco do programa foi obrigado a gravar diante de um censor imposto pelo governo militar que acusou Vila Sésamo de supostamente promover o "modo de vida americano", mas apesar disso, conseguiu-se driblar a censura e chegar na realidade brasileira com muita tranquilidade.
A estrela do seriado era Garibaldo (Big Bird), um grande pássaro brincalhão, que muitas vezes errava por ser teimoso e levado por não ouvir direito os conselhos de seus amigos. Fazia traquinagens sem querer, mas voltava atrás quando a ficha caía e ele recebia broncas, pois tinha um grande coração. Como o programa era gravado em preto e branco, apesar da chegada da TV em cores no mercado brasileiro, o boneco do Garibaldo foi pintado de azul indigo (quase a cor do jeans) em vez de amarelo como no original, pois a cor azul seria melhor adequada para exibição em preto e branco. Garibaldo foi interpretado por Laerte Morrone que usava uma mão levantada para mexer a cabeça e fazer as expressões faciais do boneco, e outra mão para manipular um braço. O outro braço do boneco era apenas um acessório extensível. Enquanto que o intérprete americano do personagem Carol Spinney usava o monitor preso ao seu peito para ver sua atuação, Morrone podia ver por onde o boneco iria através de um buraco que ele mesmo fez para que pudesse correr, dançar e pular sem se machucar e trombar no cenário.
Gugu, interpretado por Roberto Orozco, era um ranzinza e ameaçava quem se aproximasse de seu barril, no canto do pátio da vila. O boneco de espuma e pano do Gugu foi revestido por fios de lã verde musgo. Um pouco do próprio boneco e sua personalidade inspiraram o Mau do Castelo Rá-Tim-Bum da TV Cultura e os personagens Borges, Jaca Paladium e Paulo Paulada da TV Colosso da Rede Globo.
O programa também tinha a dupla Beto e Ênio que saíram do original americano onde eles se chamam Bert e Ernie. Beto tinha uma única sobrancelha, que nem a Helga Pataki do desenho Hey Arnold! da Nickelodeon, era pessimista, mas sempre estava ali para apoiar o bom e ingênuo Ênio. Uma curiosidade: o intérprete do Beto era Frank Oz que mais tarde se consagrou como o mestre Yoda da saga Star Wars dos estúdios Disney e George Lucas.
Juca (Armando Bogus) era marido de Gabriela (Aracy Balabanian), primo de Ana Maria (Sônia Braga) e um carpinteiro que ensinava as crianças a montarem brinquedos. Gabriela era sempre sorridente e adorava fazer ginástica. Ana Maria era professora e ensinava crianças a aprender e entender melhor as coisas do mundo. Seu par romântico Antônio (Flávio Galvão) sempre a visitava enquanto podia.
O Sr. Funga-Funga (Marcos Miranda) gostava muito de cantar, mas se sentia triste porque não entendia por que os outros não o olhavam como gente. Mas, como deu para entender, ele era um tamanduá gigante com a corcova do mesmo tamanho do Garibaldo.
E o Seu Almeida (João Lourenço) contava muitas história para as crianças em seu armazém.
Tínhamos tambem Kermit, o sapo, o detetive Pantaleão e muitos outros muppets que saíram do original americano, mas os mencionados acima eram os protagonistas do programa.
Vila Sésamo foi cancelado em 1977 devido ao fim do contrato com a Sesame/CTW e aos altos custos de produção. Apesar disso, continuaram muitas outras versões estrangeiras de Sesame Street, entre elas o Plaza Sésamo do México e da América do Sul. O original americano recentemente passou a ser exibido no canal a cabo HBO e já tinha novos protagonistas como Elmo e Abby Cadabby.
A Rede Globo tentou produzir uma nova versão do programa, mas nunca mais conseguiu os direitos da Sesame/CTW. Uma das tentativas aconteceu depois que o Xou da Xuxa acabou em 1993, quando acabou inventando a TV Colosso que acabou revolucionando a programação infantil brasileira com textos inteligentes e bonecos mistos de titeragem tradicional com o que havia de mais avançado de tecnologia animatrônica por controle remoto na época. Foi em 2007 que a TV Cultura finalmente conseguiu os direitos e produziu uma nova versão do Vila Sésamo, desta vez com o Garibaldo amarelo como no original e introduzindo uma nova personagem Bel. Em breve, Abby Cadabby também estará nesta nova versão.
O parque Hopi Hari tinha uma área licenciada da Vila Sésamo com direito até a bonecos. Mas as atrações eram baseadas na versão 2007 do programa, bem diferentes da versão antiga em preto e branco que passava na Globo nos anos 70.
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